terça-feira, agosto 01, 2006

79 bons exemplos de como 'Habitar Portugal'

"O Abocanhado", situado na aldeia de Brufe, em Terras de Bouro

Casas, teatros, estações, igrejas, três cemitérios, dois estádios, intervenções em património histórico ou requalificação de áreas ribeirinhas - são 79 os exemplos de boa construção nos últimos três anos. A 2 de Outubro, Dia Mundial da Arquitectura, o CCB vai apresentá-los em Lisboa, na segunda exposição Habitar Portugal. Antes disso, a 10 de Setembro, uma selecção de 18 obras será levada à Bienal Internacional de Arquitectura de Veneza.

Quem assina projectos - a Ordem dos arquitectos (OA) já tem quase 15 mil inscritos -, onde se trabalha mais e qual a relação com os clientes privados ou autarquias são algumas das leituras possíveis, a partir destes 79 casos.

Embora considerem que ainda é cedo para tirar conclusões, os arquitectos João Afonso e Ana Vaz Milheiro, membros da direcção da OA, adiantam ao DN o esboço de um possível "retrato nacional" do que se construiu de 2003 a 2005: "Se há cinco ou seis anos tínhamos muitos estabelecimentos universitários, agora temos os resultados do [programa] Polis, as obras relacionadas com as eleições regionais, as bibliotecas, teatros ou centros culturais."

Onde se fez o quê

A julgar pelos 230 projectos que se candidataram às 80 "vagas" desta edição - e não pela exposição, que privilegia concursos e se pretende diversificada a nível de programas e autores -, a encomenda dominante continua a ser a casa unifamiliar. "A habitação social tem vindo a desaparecer com o fim do PER [Programa Especial de Realojamento], e um dos últimos é o conjunto da Rua da Seara, em Matosinhos, de João Álvaro Rocha", afirma João Afonso.

Aliás, acrescenta o arquitecto, "praticamente não havia [entre as propostas] edifícios de habitação colectiva, e os que apareceram são quase todos de alto standard. Como os Terraços de Bragança, em Lisboa, de Siza, ou a Quinta das Sedas, em Matosinhos, de Alcino Soutinho".

As diferenças regionais são igualmente notórias. Segundo Ana Vaz Milheiro, "na região do Porto há um grande volume de construção, e muita de qualidade, o que terá a ver com a tradição da arquitectura ali e a grande densidade populacional". No interior, "há obras qualificadas, como a escola integrada de Paredes de Coura [NO Arquitectos] ou o Teatro da Guarda [Carlos Veloso]".

No Sul predominam habitações unifamiliares. E nas ilhas destacam-se "centros cívicos e culturais, habitação colectiva ou obras menos comuns, como os aprestos em Rabo de Peixe, de Jorge Kol de Carvalho".

O desafio, agora, será a apresentação destes trabalhos. "São obras que fazem parte do nosso quotidiano, mas é preciso aproximar a arquitectura do cidadão", diz João Afonso. Ou seja, a exposição será simples. E desmontável, dado que o objectivo é a itinerância pelo País.

As escolhas dos comissários

Promovida pela Ordem dos Arquitectos (OA) e pela empresa Mapei, a Habitar Portugal teve coordenação geral do arquitecto José António Bandeirinha. As escolhas, fruto de levantamento nacional, estiveram a cargo de seis comissários regionais. Tantos quantas as regiões contempladas: áreas metropolitanas de Lisboa e Porto (com 15 obras cada), Norte, Centro, Sul e Ilhas (dez, no máximo). A que se juntam sete projectos realizados no estrangeiro.

"A Casa da Música não está, porque Rem Koolhaas não está inscrito na ordem", explica a sorrir Ana Vaz Milheiro, antecipando já perguntas sobre esta ausência. Podem participar arquitectos de todas as nacionalidades, desde que estejam inscritos.

"Inevitavelmente", estão aqui várias obras de Álvaro Siza (marginal de Vila do Conde e Terraços de Bragança) e de Eduardo Souto de Moura (metro do Porto, estádio de Braga e remodelação do Museu Grão Vasco). E os dois arquitectos assinam em conjunto a londrina Serpentine Gallery de 2003, uma das obras da secção dedicada ao estrangeiro.

Mas também se recordam, na área do Porto, o funicular dos Guindais (Adalberto Dias), o estádio do Dragão (Manuel Salgado) e a central da Lipor (Carlos Prata). O Conservatório de Vila Real (António Belém Lima) e o restaurante de Brufe (António Portugal/Manuel Maria Reis). A Biblioteca de Ílhavo (ARX) e o Centro de Artes Visuais de Coimbra (João Mendes Ribeiro). A reconversão do estúdio de José Relvas, na Golegã (Victor Mestre/Sofia Aleixo), e o cemitério da aldeia da Estrela, no Alqueva (Pedro Pacheco). Ou o Polis do Cacém (Manuel Salgado) e a Praça Van Nan, em Macau (Manuel Vicente/Rui Leão/Carlotta Bruni).

de paula lobo

http://dn.sapo.pt/2006/07/31/artes/setenta_e_nove_bons_exemplos_como_ha.html


3 comentários:

Anónimo disse...

adorei o teu blog.
então já tens em vista algum atelier para o estágio final?? falei com a claúdia e ela disse que ia ver lá no porto.
espero noticias tuas

beijos. mafalda

POP disse...

Esta selecção -e esta Ordem- baseada na troca de favores e na capacidade de destacar as obras dos amigos teve o seu único momento de lucidez quando atribuíu o secil ao pedro borges. Daí para cá tem-se assistido a uma incapacidade critica em relação ao oficio da arquitectura em Portugal sendo o registo -dos responsáveis por esta e outras selecções- um enorme bocejo arquitectónico. http://psbf.blogspot.com

Anónimo disse...

No "Abocanhado" vale a pena ir um pouco antes da hora do jantar e ver o final do dia, o desaparecer da luz acompanhado de um bom vinho. Lugar fantástico.